O cinema cubano é um dos mais respeitados do mundo. Mesmo assim, as produções da ilha comunista costumam se restringir a alguns gêneros mais tradicionais, como dramas, romances e comédias leves. Pelo menos até agora.
Acabou de chegar ao Brasil, na programação do Festival do Rio 2011, o primeiro filme sobre zumbis produzido nas terras de Fidel, Juan dos Mortos (Juan de los Muertos, Cuba/Espanha, 2011). E é sensacional, sem dúvidas no Top 5 da seleção desse ano. A trama conta um pouco da história do pacato Juan, um malandro de primeira que leva a vida na moleza (e através de pequenos contrabandos). Defensor do regime imposto por Castro, no qual não precisa trabalhar, é arrebatado pelo estranho comportamento dos vizinhos, que começam a se tornar mortos-vivos extremamente violentos.
Toda essa situação um tanto quanto bizarra começa a interferir na vida de seus amigos e familiares, o obrigando a abandonar sua zona de conforto e tomar as rédeas da situação. É claro que ele faz tudo a seu jeito e arruma uma maneira de se aproveitar criando um serviço de extermínio de entes queridos com uma tabela de preço bem fixada, mesmo contra a vontade da filha, que o rejeita e quer mais é voltar para a Espanha, onde mora com a mãe.
Escrito e dirigido pelo argentino Alejandro Bruguès (com que o LixeiraDourada conversou e te conta amanhã), o filme carrega em suas excelentes piadas críticas severas não só ao regime cubano, mas também às várias tentativas (quase) secretas de intervenção americana na ilha: com um severo filtro em relação às informações que vêm de fora, a mídia e a população cubana não sabem identificar a "epidemia" e tratam os zumbis como dissidentes pró-EUA. Apesar de defeitos pontuais, o filme acerta muito na narrativa, no timing da direção e nos quesitos mais essenciais para o gênero: a maquiagem e a direção de arte. Ao mesmo tempo realista e inverossímil, arranca gargalhadas da plateia a cada um de seus 100 minutos.
Nunca antes a frase "revolução ou morte" tinha sido levada para para um sentido tão… vivo.
