segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A Fé Na Ação


O retrato realista de uma sociedade argentina conturbada. Os problemas e as injustiças decorrentes da desigualdade socioeconômica. A violência, a corrupção, os maus tratos sofridos pela maioria dominada. Essa é a grande característica de Pablo Trapero, um dos grandes nomes del nuevo cine argentino. Seu recorte seco e preciso derrama o “sangue” argentino na tela. Porém não se trata de “diretor-prostituto” – aquele que prostitui a realidade tornando-a sensacionalista – e sim de um homem preocupado e insatisfeito com a sociedade de seu país.



Em Elefante Branco (“Elefante Blanco”, 2012, Argentina), Trapero, que além de dirigir também assina o roteiro, mostra-nos as peculiaridades e mazelas vividas numa comunidade carente de Buenos Aires. Com o seu método de direção, ele exibe os problemas duma parte da capital portenha não mostrada em cartões-postais. Para isso, ele conta com as brilhantes atuações de Ricardo Darín, Jérémier Renier e Martina Gusman.


O filme conta a história de dos padres Júlian (Ricardo Darín) e Nicolás (Jérémier Renier) que juntos trabalham na favela de Vila Virgen, periferia de Buenos Aires, ajudando seus moradores. Com eles, também atua uma assistente social empenhada, que briga junto à prefeitura por maiores investimentos na comunidade. É uma severa crítica à Igreja e seu papel social, além do governo e suas obrigações com a sociedade.


Possuir um elefante branco, para algumas culturas asiáticas, é sinal de que o governante reinará com justiça, paz e prosperidade, bem diferente do que vemos nas quase duas horas de filme. O que é retratado é um ambiente marcado pela violência dos cartéis de drogas, que, como se não bastasse por em risco a vida dos moradores, também impede a inserção do Estado (um tanto relapso). Elefante branco é empregado com o sentido mais trivial: possuir algo com o valor acima do normal e, pelo custo não pode ser vendido. No caso, a construção de um hospital.


Pablo Trapero consegue sintetizar de forma dura os nossos ecos internos sobre as injustiças de nossas sociedades. O seu grande diferencial e saber dosar a dor e a emoção. O espectador se choca, mas sai da sala de cinema sem náuseas ou qualquer indisposição. É o retrato da realidade sem exploração.  

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