
Mesmo atualmente, na África as tradições têm mais importância que qualquer Ipod ou Facebook que seja. Algumas delas chocam nossos costumes ocidentais profundamente. Um exemplo é o sacrifício humano. Esse ato de abdicação da própria vida pela salvação do outro apóia o novo filme de Alain Gomis. Hoje ("Tey", França, Senegal, 2011) não é apenas um dia na vida de Satché, é o seu último dia de vida.
Satché é um homem, filho, pai, marido, amigo e o escolhido. Ele sai dos Estados Unidos e retorna para sua cidade natal no Senegal com o propósito de morrer por sua comunidade. O filme acompanha o último dia de vida dele. Do momento que ele acorda até dormir novamente, numa cena bela e simples, na qual ele se deita atrás de sua esposa e seus olhos observam o contorno de seu corpo até fecharem para sempre. Ao longo do dia ele é reverenciado, celebrado pelas pessoas da comunidade, se despede de amigos e pessoas queridas, caminha por sua cidade em meio a muita depredação e destruição, calmo e contemplativo. Cada lugar visitado recebe uma despedida e benção. Ao chegar em casa, ele brinca pela última vez com seus filhos pequenos sem transpor o peso do fim.
O mais comum ao tratar de assuntos como morte e fim, é tornar tudo uma experiência traumática e melodramática. Mas este não é o caso em Hoje. O filme aborda o assunto de forma poética e humana. Muitas questões se referem a vida que segue, aos que permanecem e qual a importância de aproveitar plenamente. Saber a hora da morte é a maior liberdade que se pode ter. Ao livrar-se do medo da incerteza, ai então, podemos viver em paz. O filme é uma bela e emblemática poesia visual sobre a importância da vida.
