
Um grupo de burgueses que, por uma força desconhecida, é
impedido de sair de uma sala, onde se dava uma festa, é o plano de fundo que
Luís Buñuel utilizou para mostrar o caráter humano em sua natureza crua. O Anjo Exterminador (“El Ángel
Exterminador”, 1962, México) não é apenas uma obra ficcional, mas também uma
grande análise surrealista sobre o nosso comportamento frente a situações
limites. Uma briga incessante entre o real e a imaginação.
Nossos comportamentos, pensamentos, inclinações, são,
segundo Freud, moldados pela sociedade na qual estamos inseridos. Ela é a
causadora das nossas insatisfações por exercer uma força psicológica,
controlando as ações do ser-humano. Por conta disso, não somos livres para
caminhar segundo as inclinações internas, somente por aquilo que a sociedade
impõe como um modelo. Não seguir tal exemplo, implica estar em desacordo com
essa sociedade de controle.
Neste clássico do cinema mexicano, Buñuel desperta o
espectador a observar o quanto somos personagens fictícios duma história real.
Somos um emaranhado de conceitos e interpretações “consumidos” para se adequar
ao grupo que pertencemos. Ao impedir o grupo de sair do cômodo da casa, por uma
força ininteligível, percebemos esse controle em plongeé. Estamos sendo julgados e observados a todo instante por olhos
que não vemos. Uma espécie de autoritarismo da razão.
Somos levados a refletir os padrões de organização da
sociedade burguesa como a religião, a honra, a família. É curioso ver como este
inventivo cineasta surrealista abre o campo de discussão com seu olhar que
transcende as barreiras da realidade ampliando a nossa consciência. A força que
impede o grupo de burgueses a sair da casa é a mesma que expulsou e impediu os
pertencentes de outros grupos sociais de entrarem. É uma mesma força exercendo
ações diferentes. Vemos uma ruptura na sociedade, que é prontamente subvertida.
Os que se julgam esclarecidos são humanos como todos os outros.
É um ótimo filme que deve, não apenas ser assistido, mas também estudado. Que força é essa que nos regula?