domingo, 28 de outubro de 2012

Os Pais da Miss Sunshine



Leia abaixo a transcrição na íntegra da entrevista concedida por Jonathan Dayton e Valerie Faris ao LixeiraDourada. Os diretores de "Pequena Miss Sunshine" e "Ruby Sparks - A Namorada Perfeita" falaram com exclusividade à coluna Beyond Hollywood sobre seus novos trabalhos e o universo indie.


Joel Souza/LixeiraDourada - Pra começar, eu queria que vocês me falassem um pouco sobre como é ser indie, serem diretores independentes. É mas fácil, mais difícil?

Jonathan Dayton - É uma boa pergunta. Na verdade, está ficando cada vez mais difícil ser um diretor independente hoje em dia. Para nós o que realmente importa é ter o corte final.
Valerie Faris - Ter o controle sobre isso.
JD - E também, você sabe, filmes menores estão ficando mais difíceis de se fazer, mas eu acho que até mesmo filmes como Batman, nós estávamos falando disso mais cedo, Christopher Nolan de certo modo é um cineasta independente. Mesmo não podendo existir uma franquia maior do que essa, ele consegue fazer o filme que ele quer fazer, ele tem o corte final.
VF - Eu acho que James Cameron também, né? (Risos) Ele tem o controle. Mas pra gente o importante é encontrar uma história que nos toque, algo original ou até mesmo um livro, mas esses filmes são mais difíceis de fazer porque a indústria gosta de ter garantias. Como uma commodity, algo que eles possam falar 'certo, isso fez sucesso'. E como diretores, o fato de que nós fizemos um filme até certo ponto bem-sucedido nos ajudou a fazer Ruby Sparks. Mas ainda é muito desafiador. Filmes pequenos são difíceis de vender, filmes originais são difíceis de vender. E eu acho que foi até mais difícil agora do que há seis anos quando fizemos Pequena Miss Sunshine, e os festivais realmente são o que mais ajuda a esse tipo de filme. É lá que eles chamam a atenção e ganham um pouco de publicidade grátis, porque não se gasta muito dinheiro com isso nos filmes menores.


JS/LD - Como vocês disseram, faz seis anos desde Pequena Miss Sunshine. Eu sei que vocês trabalharam em alguns roteiros que nunca chegaram a ser filmados. Mas vocês receberam propostas de majors para participar de grandes projetos na indústria? Como foi isso?

JD - Nós recebemos inúmeras propostas para filmes de diversos tamanhos, alguns bem grandes, mas nós preferimos trabalhar em filmes menores que nos dão o corte final e que…
VF - …que a gente possa escolher o elenco.
JD - Nos filmes maiores, e nós chegamos a nos envolver em um projeto de 70 milhões de dólares, quando você faz isso é mais como gerenciar uma empresa. Não se faz filme, se faz um negócio. E todo mundo quer sua parte, sabe?
VF - Nós amamos o filme, amamos o roteiro, então corremos atrás disso. Mas em um certo momento nós percebemos que não íamos conseguir fazer o filme que a gente queria fazer, e aí saímos. É difícil…
JD - Mas filmes como Ruby Sparks e Pequena Miss Sunshine são do tamanho certo pra gente, são filmes pequenos.


JS/LD - E vocês disseram que ficou mais difícil ser independente depois de Pequena Miss Sunshine. Como é isso e por quê vocês acham que aconteceu?

JD - Bem, tem um motivo muito simples: DVDs. Eles pararam de vender.
VF - Era um modo de financiar os filmes independentes, se baseando na receita dos DVDs e nas vendas para outros países. Mas hoje em dia só se pode contar com as vendas internacionais, que têm crescido um pouquinho e o fato de estarmos aqui hoje prova isso, mas o video-on-demand e a pirataria machucaram muito o cinema independente. Eu acho que a pirataria prejudica muito mais os filmes independentes do que as produções comerciais. É a soma desses fatores e também uma maior concorrência com video-games, TV… se tem tantas opções hoje que sobra uma fatia menor pra esses filmes.


JS/LD - Sobre o processo de filmagem de vocês, é difícil dividir o papel de diretor entre vocês?

VF - Não.
JD - Não, não. É que a gente já trabalha junto há tanto tempo e nós dois fazemos de tudo juntos. Isso só exige que a gente converse muito.
VF - E que a gente se prepare. A gente trabalha muito nessa preparação, juntos, pra fazer um filme. Nós exploramos o filme juntos e no set é como se fôssemos uma só mente, isso é essencial. E nós sempre trabalhamos juntos em toda nossa carreira, então não é como se um de nós já fosse um diretor e o outro chegasse e nós nos juntássemos. Não, nós sempre trabalhamos juntos e esse é o único jeito que sabemos trabalhar.
JD - Eu acho que a maioria dos diretores têm um colaborador, pode ser um fotógrafo, um editor, um cônjuge. Vai sair agora esse filme Hitchcock, que é sobre Hitchcock fazendo "Psicose" e revela que ele trabalhava muito próximo da esposa, ela era parte disso.
VF - E talvez, sem ela, ele nem teria conseguido terminar o filme, teria tido um ataque de nervos.


JS/LD - E nos dois filmes vocês tiveram grades atores, atores reconhecidos. Como é essa aproximação com eles, que trabalham na indústria? Como é convidá-los para fazer um filme menor?

JD - Bem, eu acho que atores como Antonio [Banderas] e Annette [Bening], sabe, eu acho que pra eles é divertido entrar em um filme e simplesmente aproveitar, ao invés de ter que carregar todo o filme. Vir por um período curto, experimentar, trabalhar com pessoas novas e depois ir cuidar da vida.
VF - Não é necessariamente um personagem que vai mudar a carreira deles, mas talvez seja algo que não lhes ofereçam o tempo todo.
JD - Nós nos divetimos muito com eles.
VF -  E eles nunca tinham feito um filme juntos, então eles tavam bem animados de trabalhar juntos e interpretar um casal.


JS/LD - E como foi diferente o processo, depois de ter feito tantos videoclipes e documentários musicais, como foi essa evolução até serem diretores de longa-metragens?

VF - Bem, é realmente diferente, completamente diferente. Nós amamos filmes e já vínhamos pensando em fazer um há muito tempo, muito mesmo antes de fazer Pequena Miss Sunshine. Mas nós fizemos muitos workshops, trabalhamos muito com atores, depois trabalhamos em cima do roteiro de Pequena Miss Sunshine com outros atores. Então de certo modo eu acho que nós desenvolvemos uma forma diferente de trabalhar com longa-metragens do que fazíamos com videoclipes. Os clipes contam a história de uma forma muito mais visual e filmes estão mais nas atuações e em como chegar no que é realmente importante naquela história. Eu quase penso neles como dois trabalhos completamente distintos. Há algumas coincidências entre eles, como a parte musical.  A música é algo que está sempre presente quando estamos trabalhando. Mas eu acho que os trabalhos são tão diferentes…
JD - Mas uma das coisas que coincide é que você está trabalhando com outro artista, e nós realmente gostamos disso. Sejam os Red Hot Chili Peppers ou Paul Dano, essa colaboração, essa experiência em que eles trazem tanto para o processo é uma interação realmente prazerosa.
VF - E um bom ator é quase como um bom músico, sabe? Tem algo neles que nos conecta com seus sentimentos.
JD - E é bonito de assistir.


JS/LD - E minha pergunta final vai ser bem tradicional. Quais são seus planos pro futuro, em que vocês estão trabalhando?

JD - Nós estamos trabalhando em outro filme no momento, mas provavelmente a próxima coisa que nós vamos fazer vai ser uma série de TV para a HBO com o Dan Clowes. Ele é um autor de quadrinhos nos EUA, escreveu Mundo Fantasma.
VF - Ele teve uma série de quadrinhos chamada "Eightball", eram bem engraçadas e também traziam sempre um comentário social. A gente ama esse personagem que se chama The Landlord.
JD - Eu acho que hoje em dia nos EUA boa parte do melhor trabalho que era feito no cinema independente está sendo feito para a televisão.
VF - E eu gosto desse modo televisivo de contar histórias, com mais calma, mais tempo… Parece que vai ser divertido, vamos ver!
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