domingo, 14 de outubro de 2012

Coreano da Depressão


Muitas vezes o futuro do cinema parece inclinar para a violência. Mas poucos filmes ousam ir tão longe quanto Pietá ( “Pietá”, Coreia do Sul, 2012). Com tantas surpresas cinematográficas saindo do país, incluindo o diretor Chan-Wook Park que foi para o ocidente, é natural que os olhos do mundo estejam voltados para a última novidade. O tiro não saiu pela culatra, mas espirrou sangue pra todo lado.


Um garoto jovem que vive nos suburbios de Seul e ganha a vida cobrando dívidas da maneira mais sádica possível. Seu caminho de ódio é abruptamente interrompido quando dá de cara com a sua mãe, que voltou para cuidar dele. Entretanto, história não chega a tratar de redenção. O ciclo do mal é um daqueles permanentes, e, seja por empatia ou por determinismo, não chegamos a imaginar uma vida melhor para o protagonista.


Para fazer tudo isso casar, o roteiro mete bronca. Apesar do tônus violento, os elementos diegéticos são os mais geniais possíveis. As cenas que você vai encontrar aqui não estão em nenhum outro filme. Especificamente a forma com que o longa combina violência sexual com tortura é perturbadora, mas ainda assim original.


Como já deu pra ver, o filme é muito pesado. Ele parece que pega no estereótipo ruim de filme cult: completamente pra baixo e pessimista. Talvez a direção seja o único pecado de toda a obra. Enquanto Oldboy tem um trabalho de deixar toda a violência evidente, mas implícita, Pietá não dá descanso. Tanta brutalidade fatalmente acaba ferindo o tecido do filme.


O que poderia ter sido a melhor opção do festival do Rio com status de, apenas, um filme muito bom. A história é fascinante e muito bem construída. Nesse campo o filme merece até a alcunha de inovador. Se ao menos ela inspirasse algo mais empolgante, toda a carga que ela traz seria melhor aproveitada.

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