
Não importa o quanto você seja rico, bonito ou famoso - As pessoas sempre querem mais. Como Woody Allen definiu muito bem em "Vicky Cristina Barcelona", o ser humano sofre de uma "insatisfação crônica" onde nada é suficientemente bom para o alcance da desejada (e utópica) felicidade eterna. Muitos filmes já tentaram discorrer sobre este assunto, mas nenhum o fez da maneira de Holy Motors (França, 2012). Em um ano de produções extremamente ruins, o filme de Leos Carax surge como um respiro de originalidade e inovação.
A trama, cheia de surpresas, simplesmente acompanha o dia de um indivíduo que assume várias personalidades em um curto espaço de tempo. Tudo no filme é extremamente louvável: a direção, o roteiro, os atores, a maquiagem, a produção (...) Holy Motors será aquela obra que os cinéfilos ainda se lembrarão por muito tempo após o término do Festival do Rio.
Todos os profissionais envolvidos nesse projeto têm os seus méritos, mas a megalomania e excentricidade do filme funciona graças ao trabalho deslumbrante do ator Denis Lavant (de "Tokyo!"). O diretor Leo Carax simplesmente o utiliza como uma tela em branco, uma massa de modelar em que ele pode criar o que quiser. E realmente cria. O ator e seu poder camaleônico são o grande trunfo dessa produção.
Além de levantar uma discussão poderosa sobre os tempos atuais, Holy Motors ainda possui uma certa aura pop que lhe é concedida graças a presença de duas estrelas em seu elenco: Eva Mendes e Kylie Minogue. A primeira surge deslumbrante em uma aparição quase muda que, mesmo assim, já é o melhor papel de sua carreira. Já a cantora australiana aparece rapidamente para protagonizar um inesperado número musical. A brincadeira com o seu hit Can't Get You Out Of My Head também é um dos melhores momentos da obra. Holy Motors com certeza figurará entre os melhores filmes desse ano. Ele tem elementos suficientes que o tornam, no mínimo, memorável.
