sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A Diferença Entre Usar Sangue e Ketchup


É enorme a diferença entre uma atuação e uma performance, e para ensinar isso não há ninguém melhor que a "avó da arte da performance", como ela mesma gosta de se chamar. Marina Abramovic - Artista Presente ("Marina Abramovic - The Artist is Present", Estados Unidos, 2011) traz para o Festival do Rio a obra mais contundente da artista sérvia: aproveitando a retrospectiva organizada pelo MoMA em sua homenagem, em 2010, ela passou 736 horas sentada, em silêncio, recebendo aqueles dentre os 850 mil visitantes da mostra que tiveram coragem de se sentar diante dela.



"Mas isso é arte?". A pergunta, que antes era motivo para irritação, agora sequer existe. Afinal, após mais de  quarenta anos de carreira, as pessoas aprenderam a entender ou a engolir o seu trabalho - uma teoria da própria Marina. . Impulsionada pela necessidade de testar os limites da própria resistência física e mental, a verdade é que ela veio ao mundo para chocar, contestar, encantar. E o documentário de Matthew Akers é certeiro; expõe a essência da artista de tal forma, que pode-se dizer que o filme é Marina.


Graças à edição perfeita e obviamente ao assunto de que trata, o filme nos oferece uma experiência única. Há muito mais por trás do que é óbvio e explícito, e é isso que desperta as emoções. Embora Marina não seja a pessoa mais simpática do mundo, a sua intensidade é apaixonante. Se ela te olha, ela realmente te vê, e isso não é poesia, por mais que pareça ser. Isso é estar presente. "É preciso estar presente", ela diz, "esvaziar-se de tudo para se situar num tempo presente".


"The Artist is Present" ("A Artista está Presente") expôs os trabalhos de Marina Abramovic no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) por três meses. Recebeu críticas ignorantes na mídia, e entre admiradores e curiosos, bateu o recorde de público do museu. A atração principal era a própria artista, presente, que sentou-se à mesa ainda durante o inverno e levantou-se no verão. Sua performance no museu, embora tenha sido a mais importante de sua carreira até agora, no documentário é apenas um fio condutor, com um propósito muito maior: apresentar a parte da Marina que ninguém nunca vê. A Marina guerreira, que sabe mais do que ninguém o que é preciso para ser uma artista... Um trabalho braçal enorme que envolve mais dor nas costas que criatividade.

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