quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Alimento Não Perecível


Com um eficiente trabalho de arte e roteiro bem bolado, Prazo de validade ("Fecha de Caducidad", México, 2011) é um filme de tom sombrio e irônico, que arranca constantes gargalhadas e consegue surpreender sempre. Uma ótima forma de entretenimento que cumpre com primor o que propõe. E é bom ficarmos de olho na calma diretora e roteirista Kenya Márquez, que se saiu muito bem neste que é o seu primeiro longa-metragem. 


A trama é repartida em três realidades. Começamos acompanhando Ramona, uma viúva solitária que é louca por seu filho único. Quando ele desaparece, a senhorinha entra em desespero. Atrás de respostas, ela passa a crer que sua nova vizinha é, na verdade, uma nora secreta e que tudo não passa de uma estranha brincadeira. Genaro, um faz-tudo pobretão, entra na história de gaiato. Tentando sempre ajudar, ele parece esconder algum grave segredo e também desperta a atenção de Ramona. A partir daí, um quebra-cabeças realmente envolvente se espalha.


Quando acompanhamos a mesma trama pelo ponto de visto de Marina e, depois, de Genaro, todas as certezas são postas à prova. O mistério vai se desembolando por perspectivas diferentes, desafiando nossa capacidade de dedução. Cada um dos personagens nos ganha em um devido momento. Ficamos facinados, esperando em deleite pelas próximas cenas. A conclusão da históira pode não ser das mais incríveis, mas fecha provocantemente o projeto de alto nível. 


Com um trabalho técnico praticamente impecável, a estética do longa agrada muito, dos enquadramentos à fotografia. Somos inclusos em uma atmosfera de instabilidade para acompanhar o divertido drama. Compondo essa realidade, contamos com ótimas atuações, sobretudo de Ana Ofelia Murguía, que vive a desnorteada Ramona. O roteiro, ponto forte do projeto, ganha com algumas tiradas leves, simples, que surgem em forma de detalhe, refinando com sucesso o filme. A opção de utilizar os pés como constante metáfora da personalidade é apenas uma entre as belas sacadas. O longa também pula de salas de autópsia para supermercados, brincando com seu próprio título. 


Tenho a impressão de que vi um morto respirar durante a autópsia. Se não estiver enganado, foi um dos poucos erros que o longa cometeu. Além disso, algumas faltas de resposta podem decepcionar. Fora os poucos contras, Prazo de validade é uma ótima pedida.

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