
Uma câmera em primeira pessoa nos carrega para dentro de um carro. Clima quente e escuro. Alguns sujeitos mal encarados nos apertam no banco de trás. De repente, um atentado. Somos atacados. A cena fecha. Um corpo é arrastado escrachadamente em um piso áspero e sujo. Assim começa Uma família respeitável ("Une Famille Respectable", Irã/França, 2012). Mesmo com o início agitado, o drama demora para voltar a pegar no tranco.
O filme nos faz conhecer Arash, um iraniano que trocou seu país pela França há 22 anos para se tornar um professor universitário. Quando é convidado para dar um curso em Chiraz, cidade onde vive sua família, ele finalmente decide voltar ao Irã. O retorno proporciona o reencontro de Arash com a mãe, irmão e sobrinhos. Além disso, ele se depara com o pai no leito de morte. Ao descobrir que pode herdar uma fortuna, Arash acaba se envolvendo em uma série de intrigas relacionadas aos negócios obscuros em que seu progenitor era envolvido. Neste ínterim, diversas recordações são encaixadas em um misto de lembranças ficcionais e documentais: uma forma de contar um pouco da história do próprio país.
Durante algumas lambanças, nos deparamos com cenas realmente bonitas, uma dinâmica que ilustra o trabalho de câmeras sem força prática, mas que parte de uma bela ideia. Infelizmente, enquadramentos rudes e um cansativo tremor predominam no visual. A câmera na mão é extremamente recorrente e, só algumas vezes, cumpre um papel necessário. As atuações tramitam do canastra ao surpreendentemente bom. Uma coisa não compensa a outra, mas, com boa vontade, dá para relevar.
Após o momento em que o roteiro entra em um ritmo pacato (depois da primeira cena), vai recuperando força e pegada em uma evolução que se mantém crescente até os instantes finais. Durante essa transição, o longa chega a perder o foco. Deparamo-nos com um trabalho extremamente comercial, explicativo, que tenta exibir a cultura local para fora. Isso poderia encher a paciência, não fosse a dinâmica preciosa que a obra encontra. Mesmo com um roteiro lento, a fluidez de cenas e cortes não deixa a dramatização cair na monotonia. Sendo assim, fica mais fácil acompanhar a história até o momento em que volta a esquentar e tudo que passa a funcionar muito bem.
