domingo, 7 de outubro de 2012

Jorge e a Locomotiva Maracatu Atômico




Bombas explodem no chão da Europa. Milhares de crianças, mulheres, idosos, são cruelmente assassinados por um exército fanático. Seu líder, um homem de fala sedutora e firme, encanta toda uma nação com discursos performáticos. Essa era a Europa de Ana Illich, uma iugoslava católica que engravidou de Paul Mautner, um judeu austríaco. Temendo por suas vidas, o casal desembarca em terras tupiniquins. Um mês depois, nasce Jorge Mautner – O Filho do Holocausto (Brasil, 2012).


Desde o início, os diretores do documentário, Pedro Bial e Heitor D’Alincourt, deixam claro que trata-se da história contada por eles, e não as memórias de Jorge Mautner. Para isso, a dupla convidou os grandes amigos desse artista multifacetado que passou pela poesia, teatro e cinema, imprimindo sempre a sua característica fundamental: o sarcasmo. Também é evidente a relação de sua obra com as barbáries do holocausto, que o levaram a desenvolver a sua arte, ora doce, ora ácida.



Três é o número do comunicador. Uma pessoa com mente fértil e reflexiva, aguçada perspicácia e rápido processamento lógico. Pode ser mera coincidência, mas, durante o filme, somos apresentados a três “Jorges” diferentes, passando pelo pequeno Jorge, as manias e os pensamentos, até a revolução cultural. Tudo regado por muita música, poesia, teatro... Ou seja, muita arte. Para corroborar as imagens, temos ainda uma gama de artistas e amigos de Mautner como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Amora Mautner (sua filha), Sussane Bial (mãe de Pedro Bial).


Num primeiro momento, conhecemos a sua história. Seguindo essa lógica, permeamos a relação com os familiares, o nazismo, os colegas de escola, a infância do carioca em São Paulo. É engraçado ver suas críticas severas, sempre com tiradas cômicas. Entramos em contato com seus pensamentos e hábitos, muitos considerados transgressores, porém de forma espontânea. Não trata-se de uma transgressão, mas de ações, digamos, não habituais. Como ele mesmo pontua: não existem verdades, só interpretações. Por último, entra em cena Jorge Mautner e sua busca pela Revolução Cultural.


Jorge Mautner – O Filho do Holocausto mereceu os prêmios e as indicações que levou nos festivais por onde passou. Os kikitos (prêmio do Festival de Gramado) de Melhor Roteiro, Melhor Fotografia, Melhor Montagem, além da indicação à Melhor Filme mostram o valor desse documentário. Pedro Bial e Heitor D’Alincourt construíram um Jorge um pouco Mautner.


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