
Bombas explodem no chão da Europa. Milhares de crianças,
mulheres, idosos, são cruelmente assassinados por um exército fanático. Seu
líder, um homem de fala sedutora e firme, encanta toda uma nação com discursos performáticos. Essa era a Europa de Ana Illich, uma iugoslava
católica que engravidou de Paul Mautner, um judeu austríaco. Temendo por suas vidas, o casal desembarca
em terras tupiniquins. Um mês depois, nasce Jorge Mautner – O Filho do Holocausto (Brasil, 2012).
Desde o início, os diretores do documentário, Pedro Bial e Heitor D’Alincourt,
deixam claro que trata-se da história contada por eles, e não
as memórias de Jorge Mautner. Para isso, a dupla convidou os grandes amigos desse artista
multifacetado que passou pela poesia, teatro e cinema, imprimindo
sempre a sua característica fundamental: o sarcasmo. Também é evidente a relação de sua obra com as barbáries
do holocausto, que o levaram a desenvolver a sua arte, ora doce, ora ácida.
Três é o número do comunicador. Uma pessoa com mente fértil
e reflexiva, aguçada perspicácia e rápido processamento lógico. Pode ser mera coincidência, mas, durante o filme, somos apresentados a três “Jorges”
diferentes, passando pelo pequeno Jorge, as manias e os pensamentos, até a revolução cultural.
Tudo regado por muita música, poesia, teatro... Ou seja, muita arte. Para
corroborar as imagens, temos ainda uma gama de artistas e amigos de
Mautner como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Amora Mautner (sua filha), Sussane
Bial (mãe de Pedro Bial).
Num primeiro momento, conhecemos a sua história. Seguindo essa lógica, permeamos a relação
com os familiares, o nazismo, os colegas de escola, a infância do carioca em São Paulo. É engraçado ver suas críticas severas, sempre com tiradas
cômicas. Entramos em contato com seus pensamentos e hábitos, muitos
considerados transgressores, porém de forma espontânea. Não trata-se de uma
transgressão, mas de ações, digamos, não habituais. Como ele mesmo pontua: não
existem verdades, só interpretações. Por último, entra em cena Jorge Mautner e
sua busca pela Revolução Cultural.
Jorge Mautner – O Filho
do Holocausto mereceu os prêmios e as indicações que levou nos festivais
por onde passou. Os kikitos (prêmio do Festival de Gramado) de Melhor
Roteiro, Melhor Fotografia, Melhor Montagem, além da indicação à Melhor Filme mostram
o valor desse documentário. Pedro Bial e Heitor D’Alincourt construíram um
Jorge um pouco Mautner.
