
Se você achou o título desse texto estranho é porque não viu o filme a que ele se refere. Sem dúvidas a produção mais perturbadora desse Festival do Rio, Brincadeiras de Criança ("Juego de Niños", México, 2012) carrega uma tensão capaz de afetar até mesmo os espectadores mais insensíveis. E, mesmo sendo um remake e estando do meio de centenas de outros filmes apocalípticos, carrega em si uma originalidade considerável.
O filme conta um trecho da viagem do casal Beth e Francis, que estão no México numa espécie de "segunda lua-de-mel". Mesmo em pleno carnaval e com a mulher grávida, Francis aluga um pequeno barco para levá-la a uma ilhota paradisíaca no Mar do Caribe. Tudo parece ir muito bem, até que numa primeira caminhada pelas ruas da ilha eles começam a desconfiar que o lugar está um pouco deserto demais, afinal o máximo que eles haviam visto eram algumas crianças pescando e brincando no píer.
Depois de explorar alguns locais aparentemente abandonados às pressas, eles concluem que definitivamente há alguma coisa errada. Logo depois confirmam a desconfiança ao testemunhar um grupo de crianças espancando um senhor idoso até a morte. É aí que começa uma corrida extremamente tensa em que o casal tenta fugir daquela situação bizarra enquanto dezenas de crianças armadas com paus, pedras e machetes os perseguem. Todas as situações, apesar de absurdas, são retratadas com uma violência tão explícita que se tornam verossímeis, causando uma sensação mista de medo e repulsa.
O roteiro é extremamente envolvente e nos mantém presos quase durante todo o tempo, mas perde muito da sua força quando se encaminha para um final bastante fraco, apesar de parcialmente imprevisível. As atuações das crianças são arrepiantes, algumas delas dignas de Dakota Fanning. No que diz respeito aos atores adultos, tanto os protagonistas quanto os coadjuvantes caminham pela tênue linha que há entre uma super expressividade e a canastrice, caindo ora para um lado, ora para o outro. Todos esses elementos, combinados com uma direção um pouco over e com o espírito inegavelmente trash da trama, formam um dos melhores filmes de terror dos últimos anos que, mesmo sendo remake de um filme espanhol de 1976 ("Who Can Kill A Child?"), se destaca como inovador.
