
Se tem um gênero de filme que marcou as últimas décadas e parece nunca sair de moda, esse gênero é o do filme apocalíptico. Centenas de cineastas mundo afora já imaginaram uma infinidades de terríveis finais para a humanidade, desde epidemias até desastres nucleares. Numa jogada quase original, três filmes foram compilados no longa O Livro do Apocalipse ("Nryu Myeongmang Bogoseo", Coreia do Sul, 2012), cada um com sua própria especulação absurda sobre o fim do mundo.
Como eles não formam exatamente uma trama única, vou fazer um breve comentário individual sobre cada trecho.
No primeiro segmento, um cientista do exército faz uma faxina em casa e joga fora, entre outras coisas, uma maçã meio podre. Essa maçã é "reciclada" e utilizada na fabricação de um composto orgânico com a finalidade de alimentar o gado. Uma das vacas que come, por sua vez, é abatida para alimentar os humanos. Esse mesmo cientista vai jantar com sua nova namorada no restaurante que recebeu a carne da vaquinha e come um pedaço do fígado dela. Aparentemente, é "só" isso que precisa pra começar uma infestação de zumbis que se espalha rapidamente por todo o país, causando até especulações de que tata-se de um ataque da outra Coreia, a do norte. Apesar de hilário, pode fazer os vegetarianos se contorcerem na poltrona do cinema. No mais, um roteiro excelente e a qualidade técnica excepcional que sempre se espera dos coreanos, com destaque para a montagem.
A segunda parte é também a mais séria e profunda das três. Num futuro não muito distante, os robôs já fazem parte da vida de todas as famílias. E parece que vem uma história à la "Eu, Robô", né? Mas não é isso... Um jovem técnico que trabalha para a maior fabricante de androides do mundo é chamado em um templo budista para verificar se um dos robôs do monge está apresentando algum problema técnico ou não. O suposto defeito? O robô atingiu um nível de iluminação espiritual mais elevado do que o de qualquer frequentador do templo, fazendo com que alguns acreditassem se tratar da reencarnação do próprio Buda. Os diálogos do filme são maravilhosos e provocam, de fato, uma reflexão (já pensou nas consequências de uma máquina, e não um humano, atingir o Nirvana?). O destaque aqui fica para os efeitos visuais, já que nem Hollywood tinha me mostrado um robô tão realista.
O terceiro e último capítulo é, definitivamente, o que apresenta a premissa mais absurda. Uma garotinha consegue, sabe-se lá como, quebrar a bola 8 da sinuca do pai. Para esconder a travessura, compra uma nova bola pela internet. Anos depois, quando a família nem se lembra mais disso, um enorme meteoro se aproxima da Terra em alta velocidade. Minutos antes da colisão, a menina percebe que, acidentalmente, havia feito a compra em um website alienígena e a esfera que irá acabar com a vida no planeta é a sua bola 8. Seu tio hacker tenta cancelar o pedido. É absolutamente hilário e, sem dúvidas, o melhor dos três filmes da compilação. Grande parte disso se deve aos excelentes atores.
